Há equipamentos que já nem questionamos se fazem parte dos nossos carros, por serem tão banais (até obrigatórios), como o motor ou o volante. O sistema de travagem ABS – Anti-lock Brake System ou, no alemão da Mercedes e Bosch que o desenvolveram em conjunto… Antiblockiersystem – tornou-se o primeiro sistema electrónico de segurança activa e comemora-se este ano o 40.º aniversário da sua introdução no mercado: um Mercedes Classe S W116 de 1978 foi o primeiro carro a beneficiar desta nova tecnologia mas… como opção paga à parte!

Até aí, as travagens, em especial sobre piso molhado ou gelado, eram sempre tarefas muito delicadas, com os condutores a blocarem as rodas muito facilmente, seguindo os carros em frente, totalmente descontrolados. Após um longo período de desenvolvimento, o ABS veio, não só, impedir que as rodas blocassem mas também que o condutor conseguisse manter a direcção do veículo, permitindo-lhe evitar um obstáculo, mesmo enquanto travava a fundo. Um progresso gigantesco a nível de segurança, mesmo se os primeiros sistemas ABS tinham funcionamento algo brusco que quase magoavam as pernas dos condutores!

E, no entanto, quase desde o início do século passado que se procurava uma forma de evitar que as rodas blocassem. Em especial nos pequenos aviões de guerra que tinham tendência a afocinhar nas aterragens quando isso sucedia… Mas foi preciso esperar que a electrónica se desenvolvesse para haver uma solução.

Na verdade, a história do ABS está prestes a completar meio século, se contarmos com o longo período de desenvolvimento, numa altura em que o domínio da electrónica estava muito longe do que temos hoje em dia… Foi em finais dos anos 60 que começaram os trabalhos, nomeadamente na Mercedes, um dos construtores que esteve na linha da frente das pesquisas, tanto para automóveis de passageiros como para furgões, camiões e autocarros.

Um dos protótipos usados nos testes, em 1970, um modelo da série W114, tinha até uma espécie de gaiola de protecção sobre o pára-brisas, já a prever o embate nos blocos, pois este era o carro que não tinha sistema ABS e que servia de comparação com a unidade que dispunha do revolucionário dispositivo. Só perto do final da década o ABS chegou a um veículo de produção, com a Mercedes a propô-lo, em estreia e como opcional, no Classe S.

Só já bem dentro dos anos 80 se começou a popularizar no mundo automóvel, tendo-se espalhado mais rapidamente entre os pesados, em que se revelou de grande utilidade para evitar embates com graves consequências. E chegaria também às motos, aumentando consideravelmente a segurança, em especial em dias chuvosos.

Apesar de ser um sistema cada vez mais popular e procurado, a União Europeia só o tornou obrigatório para todos os carros vendidos no espaço europeu a partir de 2004. Por isso, agora, já nem nos lembramos que os nossos carros têm ABS que, entretanto, passou a estar integrados nos sistemas de controlo de estabilidade (ESP), também eles obrigatórios.